YBEANE MOREIRA – 4 poemas
YBEANE MOREIRA – 4 poemas

YBEANE MOREIRA – 4 poemas

Revista Navalhista

 

 

SOBRAS

 

Trouxe pouco: 

Algumas palavras não ditas, 

Um punhado de sonhos 

 Os que couberam na mala. 

 

Dizia-se que era preciso 

Carregar o mundo nos ombros. 

Eu trouxe apenas 

O que me cabia nas mãos. 

 

Agora levo menos ainda: 

As palavras se evaporaram, 

Os sonhos se finaram 

Como velas ao vento. 

 

Sobrou-me este vago, 

Este peso leve do quase-nada. 

Mas há quem caminhe melhor 

Quando a bagagem é pouca, 

E o coração, 

Ainda que vazio, 

Bate!

 

 

Revista Navalhista

 

 

Às Margens do Caminho

 

Vivo às bermas do caminho, 

onde o asfalto se desfaz em terra, 

onde os carros passam 

Mas ninguém para. 

 

Meu quintal é o acaso, 

Minha cerca, o esquecimento. 

Planto versos em solo ácido, 

Colho silêncios maduros. 

 

Não sou viajante, nem destino, 

Apenas a sombra que persiste 

Quando o sol se cansa 

De iluminar estranhos. 

 

Às vezes, um pássaro perdido 

Pousa em meus ombros 

— E então lembro 

Que até à margem pertence 

O direito de florir.

 

 

Revista Navalhista

 

 

Observadora Ocupacional

 

Entre batidas de teclado e xícaras frias,

observo a vida — ofício burocrático da alma.

Anoto em fichas invisíveis:

“O homem do elevador carrega um século nos ombros.”

“A mulher das plantas ri sozinha ao telefone.”

São crônicas não escritas,

rastros de existências alugadas,

enquanto o relógio mastiga minutos

e os dias escorrem pelo ralo do ofício.

Pergunto-me, entre um enter e outro,

se também sou observada:

“Aquela que olha demais e vive pela metade,

enfiando poesia nas gavetas do word.”

Mas eis o meu subterfúgio filosófico:

enquanto contabilizo ausências alheias,

invento mundos nas margens dos relatórios.

Porque observar é o meu modo secreto

de desobedecer à tirania do útil.

Afinal, quem cataloga os observadores?

Deixo a questão pairar,

entre um café e o próximo intervalo.

 

 

Revista Navalhista

 

 

Ferida

 

Quem sou eu,

senão a terra que piso,

o céu que almejo,

e o abismo que ignoro?

A ferida acesa arde,

não só pelo que vejo,

mas pelo que não me vejo.

 

Mundo, tu és espelho,

e eu, a imagem quebrada.

Enquanto busco curar-te,

quem cura a mim?

que carrego tanta chama

e me perco na fumaça.


Ybeane Campos Moreira

Ybeane Campos Moreira, nascida em 1985, Município de Ribeirão do largo, Bahia. Hoje Residente em vitória da conquista. Mulher, escritora, mãe de Pedro, pedagoga, assistente Social. Autora dos livros: Eu, Poesia (2023) Pedro e as letras do Alfabeto (2023) Eu, tu, ela, nós, mulheres (2024) Coautora do livro Entre sonhos e travessuras (2024) Café da três (2025). Fundadora da comunidade palavrilhas e Coordenadora do coletivo elas in versos.

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