REVISTA NAVALHISTA – Quem assina a orelha é o poeta Jacinto Fabio Corrêa. Sobre Mar de Palavras, ele diz que “traz à tona o eterno mistério que habita a essência de todo escritor: de onde vem tudo isso?” Jandeilsom, de onde vem tudo isso?
JANDEILSOM – Certa vez recebi em casa o livro de poemas do amigo Sylvio Adalberto, da cidade de Petrópolis aqui no Rio de Janeiro, que trazia na capa o título “Sentir é terno” com um jogo de palavras implícitas, no qual ele já ensaiava a resposta para essa pergunta, como se dissesse que independente do jogo, ou da situação, rico ou pobre, com variação linguística ou apenas fazendo um trocadilho, o sentimento é perene, tem movimento, é eterno, é ternura, enquanto existir vida. Poemas são atravessamentos. Na minha infância, fui coroinha, no interior da Paraíba, tinha uma senhora que se chamava Zefinha de Severino Dantas, frequentadora do apostolado da oração, que em dias de festa como dia das mães, natal, festa do padroeiro pedia cinco a dez minutos no púlpito da igreja para declamar seus versos em ritmo de cordel, trova, com um sotaque paraibano bem carregado na melodia dos versos, horas cantadora, horas repentista, a ouvindo declamar seus poemas, quando chegava no meu ouvido sentia um friozinho na barriga, eu parava tudo o que estava fazendo para ouvi-la, sentia aquele momento como algo importante, eu queria entender o que estava sentindo, e mais uma vez a palavra sentir aparece aqui né, pois aquilo me fazia automaticamente querer ouvi-la, entender aquelas palavras que estavam sendo ditas, sentir aquilo como uma oração. A poesia já me molhava ali. Isso na infância. Muitos anos depois, já adulto, morando no Rio de Janeiro, assistindo uma dessas palestras para escritores, do poeta e escritor Edson Santos, ouvi e vi um vídeo, muito parecido com a forma como assimilei a poesia que eu ouvia sendo recitado por Zefinha de Severino Dantas. Embora eu não entendesse as dimensões da giganteza do escrito que ela declamava pela forma como estavam dispostas no verso e o rico vocabulário que usa, a melodia do poema foi uma coisa que me marcou e foi a partir dali que comecei a gostar da poesia popular, do repente como Caju e Castanha, a primeira vez que me perdi em uma feira popular foi por causa de uma dupla de cantador, eu era muito novo e as coisas me escapavam da memória então quando os vi dentro do mercado parei, enquanto os assistia ficava refazendo o caminho de volta pra barraca do meu pai, eram meus primeiros caminhos, no encanto pois só sai de lá quanto terminou, esqueci o caminho de volta, tive ajuda pra voltar depois de muito choro, nessas feiras sempre tinha um cantador, eu também ia muito pra feira de Caruaru e minha mãe não tinha com quem me deixar me levava, então lá eu ouvia muitos cordelistas contando história na rima, eu dizia mamãe eu quero aprender a ler pra escrever poesia, sempre que íamos a Caruaru era esse encontro com a melodia, foi nas placas da longa viagem que fazíamos que aprendi a ler, e revivi esse sentimento de infância quando ouvi e vi na sala de aula Arseni Tarkovski no filme Stalker, as aulas eram online, em casa, sozinho sem interferências externas, digo, no recolhimento do poeta, no mergulho do poeta, naquele lugar onde o poeta se encontra com a poesia, sua ilha íntima, ali revivi o mesmo sentimento de infância ao ouvir e depois ver a cena, lembrei de Zefinha de Severino Dantas, lembrei de Caruaru, da primeira vez que me perdi na feira quando estava aprendendo os atravessamentos dela. Quer dizer, essa imagem, esse enigma, esse trocadilho, essa letra escondida, essa verbalização, ou não do poema é um sentimento eterno de entrelaçar das vidas. O poema é um encontro de vozes, então ele vem dessas ondas que me atravessam desde menino, seja lá na Paraíba ou aqui no Rio – na Rocinha, nas vielas molhadas do sonho, nos becos onde a palavra é bicho solto. Vem do silêncio da favela que escuto com meu corpo, das vozes que me habitam, do medo e da coragem que se misturam no mesmo verso. O poema é um encontro de vozes, então ele vem do mar, não só do mar líquido, mas do mar da memória, da dor e da beleza, da vivência e invenção, porque tem algo que nos transborda, e se eu não boto pra fora me afogo. É o improviso do cotidiano, do Samba, da oração da minha mãe, do trabalho do meu pai, da garra dos meus irmãos, da existência da minha ancestral maior que é minha avó, da memória do meu avô descendente de indígenas, do grito do morro, da boca dos meus, das páginas que já li e das que nunca chegarão até mim, das vozes historicamente silenciadas. Vem também da escassez transformada em poesia, da raiva que virou palavra, da alegria que explode como um poema em dia de céu azul e praias lotadas. É um risco dizer que vem de quem sou e daquilo que o mundo insiste em me negar? Acredito que não, pois é uma necessidade de nomear o que doeria se ficasse calado. Então veja: é a criança que ainda não pensava em poesia, mas sentia alguma coisa quando ouvia a melodia do poema. É o adulto, agora, relembrando esse sentimento ao escutar os versos de Tarkovski. Porque, ao mesmo tempo em que é eterno, é ternura também. É eterno porque, no encontro de vozes, junta-se o popular ao erudito — como diria Ariano Suassuna. Sim, porque ali, naquele momento em que a criança se apaixonou por poesia, ela foi se molhando na poesia popular da sua terra — feita de melodia e de palavra. E a poesia não é só melodia: é o todo, né? Um conjunto. Um corpo inteiro de sentido, mergulhando no mar de palavras. E, ainda assim, há coisas que escrevo sem saber de onde vêm. Ainda assim correndo o risco de sair seco do mergulho. E talvez seja esse o mistério mais bonito: o de escrever sem entender tudo, mas sentindo tudo — como quem navega por um mar profundo, confiando que a palavra sabe nadar.
R. N. – Ainda falando sobre interrogações presentes nos paratextos, vamos a outras interrogações encontradas no texto que abre o livro. Como você definiu: “são as perguntas norteadoras que me fiz durante o processo de escrita e pós-escrita deste trabalho”. Estamos muito curiosos para saber em que lugar chegou quando se questionou:
a) “Como nasce o poema?”
J – Acredito que o poema nasce quando a linguagem já não dá conta — e, mesmo assim, a gente insiste, persiste. Carlos Nejar, no primeiro dia da formação de Escritores Machado Quebradeiro, em uma das palestras proporcionadas pela ABL às Terças-feiras disse que “as palavras amam os poetas”. A criança conheceu a poesia como um dom divino. Como algo que se manifesta, e não algo que se força, persistir, insistir, como me disse Itamar Vieira a primeira vez que que foi na Bienal do Rio, na praça de autógrafos: “persista viu, e o principal, ame a palavra, ame a palavra”. À medida que caminha, a criança descobre: um dom não é apenas a manifestação. O dom, na verdade, são as ferramentas que você recebe do divino para trabalhar. E com essas ferramentas, você precisa garantir o seu sustento — não só o pão do corpo, mas o alimento da alma — para que o divino continue se manifestando. Em vez de esperar que ele simplesmente venha, você proporciona as condições para que aquilo que recebeu encontre uso, forma, função, finalidade. O poema, então, se manifesta de várias formas. Não só como inspiração, mas também como necessidade. Porque, se você nasce com um dom divino, isso, pra mim, quer dizer que todos os poemas, todas as palavras, tudo já está dentro de você. E, à medida que você lê, que busca conhecimento, que se abre ao mundo, você vai aprendendo a nomear o que te atravessa. Vai aprendendo a usar essas palavras. Vai descobrindo como dize-las. E é assim que o poema nasce: do encontro entre o que te foi dado e o que você faz com isso. De uma lembrança que dói, ou uma ausência que insiste, de algo bobo que às vezes se ilumina. Quando o mundo diz “não” e o poeta responde com versos. No corpo, antes de virar pensamento. Impulso, intuição, letra de música. As vezes chega inteiro, outras vezes em flash. Dos dias que ele não vem e mesmo assim temos que insistir, porque o poema também nasce da persistência, e especialmente da escuta profunda de si e do outro. Do afeto que transborda, da dor que começa a cicatrizar. Cada poema tem seu processo, sua travessia.
b) “Como é o poema e seu processo imaginário?”
J – O processo de imaginar o poema pra mim foi uma experiência muito significativa. O poema é antes de tudo um território em movimento. É fluxo. Não é fixo, nem estável. O processo imaginário que forma o poema começa bem antes da escrita, ele começa no corpo, na escuta, no olhar, naquilo que não foi dito, sendo uma imagem sentida antes de ser pensada, essa associação brota do inconsciente, vai atravessando a memória, passando pela intuição e só depois ele ganha uma roupagem, se vestindo de linguagem, atravessa várias zonas sensíveis como imagens da infância, as vozes da ancestralidade, as feridas abertas, a alegria sem razão. O poeta sente o mundo, parece tocar uma superfície invisível a todos, e só tocando nesse invisível ele descobre que existe muito mais do que os olhos podem alcançar. O poema não é só uma ideia, um conceito, ele se faz de mitos pessoais, dos símbolos de nossa cultura, das palavras herdadas de nossos ancestrais, e dos “padrões simbólicos universais enraizados em nosso consciente coletivo que surgem das diversas formas da expressão cultural ou universal”, como diria Jung. O processo é uma pororoca no encontro de águas, íntimo e universo. Seja no papel ou na mente, o poema é sentimento, vai se delineando sensorialmente, uma palavra solta, uma cena, um som. Quando Mar de Palavras surgiu, eu senti a necessidade de ir à campo, de ter contato com a produção ao vivo, o improviso, os sussurros e gritos de resistência, ir onde a poesia está acontecendo, onde o friozinho na barriga transborda pra fora como o estalo de uma latinha de cerveja na praia em um dia ensolarado após o trabalho, um jogo de altinha com os amigos, uma conversa à beira-mar. É assim o sarau, os slam, a roda de rima, os encontros de poetas, as rodas de conversas literárias, as formações para escritores, as bienais. Mar de Palavras foi um trabalho que teve seus processos registrados, para que o leitor pudesse acompanhar o seu desenvolvimento. Para que tivesse contato com os livros que estava estudando e lendo, os lugares que frequentei na pesquisa, os estudos, a seleção para as formações Machado Quebradeiro e Clipe Casa das Rosas, a chamada de originais da Urutau, a pré-venda colaborativa, uma vez que a pessoa ao comprar antecipadamente estava contribuindo para seu lançamento na Bienal ao mesmo tempo que interagia com a obra, e nessa busca por referencias vi semelhança de tudo que estava fazendo com o poema/processo movimento do qual ouvi falar no Clipe Casa das Rosas, nas aulas de Bruna Mitrano e depois de Flávia Peret, com o processo do poema que estava produzindo e da proposta que eu tinha para esse trabalho que foi apresentado nas inscrições do Machado Quebradeiro e do Clipe, o que produzi foram cartazes pro feeds, vídeo-poema legendados, poesia visual, declamações, colagens, testando formas e formulas, para que o leitor tivesse em mãos um trabalho de qualidade, em forma de superação, como o Poema/Processo, de subversão, de interação, de resistência e memória. Os processos foram primordiais já que tudo ocorre ao mesmo tempo, em retiro ou na agitação do mar da vida, o poema tem seu processo, seu faça-se, vindo ou não o poema, é preciso estar preparado. Ao mesmo tempo que a poesia acontecia, tudo acontecia e o leitor pode acompanhar, pode consultar e entender o contexto do livro, porque ele ganha essa dimensão, enquanto livro ele parece ser só mais um do ponto de vista da imagem, ele ganha profundidade quando o leitor inicia a interação com ele. Ao mesmo tempo que adquiria as ferramentas e as usava no trabalho de feitura da obra, descobri as semelhanças do Poema/Processo com a literatura periférica do ponto de vista da Resistência, a ditadura militar foi o período que aumentou a repressão a favela foi nesse período que o Poema/Processo surgiu, e até hoje esse tipo de repressão é praticada contra a Favela, com assassinatos a queima roupa, remoções forçadas, desaparecimento de pessoas, contra a Arte, contra o Povo Negro e Indígenas, contra nossa música. Mar de Palavras é esse diálogo, do ponto de vista do leitor que interage com a obra, ganha a mesma dimensão da orelha de Mar de Palavras, da Resenha de Mayk, das palavras do Jacinto Fábio, porque todo livro é só mais um livro no mar de livros, e ele só ganha a dimensão que tem, realmente depois que é lido, depois que é desvendado, quando o enigma é finalmente revelado. A resenha do Mayk, mostra bem isso, molhado ou seco, você leva o mar consigo. Não dá pra inventar tudo, mas dá pra captar, lapidar, silenciar, arriscar, reescrever, experimentar, superar, pois nada melhor que um dia após outro pra nós e pro poema. Todas as superfícies que o poema passou antes de ganhar sua forma definitiva é processo, tem sua beleza e precisa ser partilhado também com o leitor.
c) “Como o poema chega até o poeta?”
J – Ele não chega com hora marcada, nem pede licença, vem no marulho do mar, na solidão do navegante, como um grito atravessado no peito, com o silêncio rompido. Quando você está num processo, o próprio processo é poesia, para mim poesia é o conjunto dessas imagens que o poema evoca em todas as suas dimensões. Ele não vem inteiro, vem em pedaços, formando um poderoso conjunto de lembranças antigas, cheiros esquecidos, uma palavra que gruda, um ritmo, um corpo que se movimenta. Em uma livraria o leitor quando folheia um livro ele faz parte da poesia do poeta, porque o poeta ele pensa e sonha todos os processos do seu livro, inclusive os processos que ele não está presente, como a edição em si, quando por exemplo um poeta envia sua obra para o editor, é ali em si, uma edição final, mesmo que o livro seja editado depois, caso a editora faça todos os processos, mas é aquela edição final do autor que traz a essência da força que vai levar (carregar consigo) aquele original até chegar nas mãos do leitor, então o poeta imagina inclusive aquele leitor que não vai ler sua literatura, que pega o livro e depois o solta, porque em um pais como o nosso o poeta da periferia não pode só pensar em ser lido, tem que mergulhar completamente, pensar que também é leitor e que em algum momento nesse mar de palavras que é a literatura, teve que priorizar os clássicos na hora de comprar porque tem pouco dinheiro e as políticas públicas não chega pra todos, então o poeta da periferia ele não pensa no leitor apenas como um consumidor, ele sabe que sua vida e sua obra é símbolo de resistência, ele pensa, bom se eu tenho a oportunidade de chegar nas mãos do meu leitor eu tenho que oferecer um livro que faça ele ter a certeza que está no caminho certo, que sua ação de comprar aquele livro é resistência, e que esse livro vale apena ser lido, investir nele, ter em casa, memoriza-lo, compartilha-lo. O poema chega assim, vindo de dentro e de fora. Da vida e do que ela cala.
d) “Onde o poema encontra a sua completude?”
J – Quando encontra o outro – o olhar do leitor, o corpo da escuta, a pele da página. Nasce pelo poeta, mas é na travessia que se realiza no outro. No poeta é uma possibilidade, mergulho ou não mergulho no mar? Quando mergulho, quando leio, sinto, releio, reinvento, o poema floresce ganhando novas camadas, profundidade, até mesmo o que o poeta nem imaginou, diferente da forma final, do acabamento recebido, assim como no poema/processo, é nessa interação com o leitor que ele encontra sua completude, que ganha sua forma final. Busquei em Mar de Palavras ofertar uma experiência na qual o leitor pudesse destrinchar o universo do poema e das palavras como nascem, o caminho que ele percorreu (processo), e identificar sua memória ali. Ter contato não só com a experiência da poesia, como o produto final – livro/poema, mas com todo o processo que possa significar seu conteúdo (antes da poesia nascer, quando a poesia está nascendo, muitas vezes palavra por palavras como no poema Genesi, o decorrer do processo até o objeto final), proporcionar ao leitor conhecimento, diversão e contato com outra cultura.

R. N. – “Porque todo livro é só mais um livro no mar de livros”. Por que trazer mais um livro ao mar de livros?
J – Nessas horas penso nos inutensílios de Manoel de Barros. O inutensílio nada mais é que uma coisa que só ganha utilidade quando gera interesse, só ganha sentido quando alguém dá sentido a ele. Um livro é um maravilhoso inutensílio que todos os dias ganha significado, todas as horas, a todo momento, e estamos aqui dando significado a ele. Em “Trilha sob mar” é esse encontro do leitor com o livro, ele olha de longe o poema e ele vê Céu e Mar junto, ele sabe que os espaços tem profundidade, tem extensão, essência, mas ele só descobre a trilha depois que se lança ao mar. A máquina de escrever é um inutensílio maravilhoso.
Recentemente estive na Bienal lançando livro pela primeira vez lá, foi uma experiência incrível, lancei junto a outros escritores, cada um na sua individualidade, através da Editora Urutau que realizou uma chamada de originais para serem publicados de forma tradicional e lançados na Bienal do Rio 2025, aliás nessa Bienal tive um combo de experiências, todas elas oportunizadas pelos processos formativos que participei onde fui avaliado como um todo, tanto minha carreira quanto a qualidade do meu trabalho. Lancei coletivamente com outros escritores de um Sarau, primeiro o livro Vem Prá Cá, Conexões, uma antologia com escritores periféricos na maioria mulheres participantes do Vem Pra Cá! Sarau, que é um coletivo de escritores e poetes periféricos que ocorre toda segunda terça-feria de cada mês religiosamente ao lado dos Arcos da Lapa, esse sarau/coletivo que teve como madrinha/incentivadora/influenciadora a recém falecida imortal da ABL Heloisa Teixeira, grande apoiadora do movimento Marginal, feminista e visionária sendo das primeiras escritoras a criar uma Antologia totalmente Digital – a Antologia Enter, que escreveu a quarta capa da Antologia e essa quarta capa é inclusive um dos seus últimos se não o último trabalho dela ainda viva. O convite para participar desse sarau que veio da Rozzi Brasil, voz importantíssima da Literatura Periférica dentro da Universidade das Quebradas na Formação Machado Quebradeiro dentro da ABL, a Academia Brasileira de Letras que nos acolheu nessa formação. Essa formação foi muito simbólica para a Literatura Brasileira como um todo, já que simbolizava um passo importante que é a aproximação da Academia Brasileira de Letras com a Literatura Periférica, para mim muito simbolizada no livro de Carolina Maria de Jesus – Quarto de Despejo – uma vez que os espaços construídos naqueles prédios centenários não foram pensados pra receberem formações nesse nível e nos acomodávamos em um espaço pequeno, mas não só isso, a ABL é igual coração de Mãe, e Machados, de Gils e Anas Marias. Eu escrevo livros que querem ser lidos, então na oportunidade que tive entreguei a Rozzi Brasil um livro meu Zezinho da Rocinha – um épico sobre a vida de crianças da favela da Rocinha no final dos anos 90 e início dos anos 2000 que escrevi logo na minha chegada no Rio de Janeiro e nasceu primeiro como cordel e foi evoluindo com meu contato com o rap e outras vertentes da poesia e por fim publicado em 2022 pela Rizoma Projetos Editoriais importantíssima na minha vida – uma semana depois no nosso próximo encontro ela me convidou pra esse Sarau Vem Pra Cá! Nome bem sugestivo que ganhou meu coração, mas que só tive acesso porque ela disse que quando pegou esse livro não conseguiu mais parar de ler e me queria muito no sarau dela para que outros escritores e poetas me conhecessem, tivessem acesso à minha literatura. O sarau é comandado por duas escritoras, ela a Rozzi Bras e sua parceira Lilian Maial que eu já conhecia pois além de escritora é uma importante poetisa do movimento minimalista chamado Poetrix, que conheci nos 2008 a 2012 época em que lancei meu primeiro livro de poemas Solidão além do que vejo – poemas que eram mais memórias com formas de escrita fixa e muitas vezes desabafo do jovem reprimido, radicalista e cego que eu era, do que propriamente um trabalho com um Eu lírico bem definido e coerente. Esse livro de poemas que sofreu influência do Poetrix foi onde talvez, no poetrix, eu tenha ensaiado meu primeiro Eu Lírico bem definido. Ocasionando assim a formação Machado Quebradeiro uma forte serendipidade da vida, quando você procura uma coisa e encontra outra, no caso outras, já que depois de participar e passar a frequentar o Vem Pra Cá Sarau, surgiu o convite para participar do livro que celebra o nascimento do Vem Pra Cá Sarau como um movimento literário da Poesia Falada e através do Livro se inscreve oficialmente na Literatura. O livro celebra as Conexões realizadas através e a partir de sua existência, e também é um marco pra Literatura Periférica porque ele representa esse boom de um movimento literário que está ocorrendo nas Periferias que prioriza e fortalece o Coletivo, como Saraus, Rodas Culturais e de Rima, Slam, e na periferia, é claro, a Poesia sempre foi forte e o Coletivo emana da Solidariedade que é uma atitude muito forte já enraizada na essência das pessoas. Foi através do convite de Rozzi Brasil que iniciei uma fase importante no projeto de constituição desse livro Mar de Palavras, ter contato com a Poesia Falada, e foi onde testei alguns poemas do livro, já que Mar de Palavras em meu pensamento só seria completo se eu enquanto ser humano, vivenciasse e convivesse não só com a minha poesia, mas a de outros poetas que representasse aquilo que sou, aquilo que o tempo me moldou a ser, essa pessoa que sou hoje, os poemas que se tornaram nesse livro, já que muitas vezes poesias também são ecos dos ecos da existência, pra representar esse amadurecimento a poesia precisa circular, ter contato com o receptor da mensagem, ter contato com novas formas de falar e de ser poesia. Nessa Antologia Vem Pra Cá – Conexões foi publicado meu poema Vozes das Quebradas, poema que escrevi também durante a Formação de Escritores Machado Quebradeiro e CLIPE Casa das Rosas, que tenta narrar a nossa trajetória de escritores periféricos recebidos na ABL, com um pedido para que a ABL não feche suas portas aos Escritores Periféricos, uma vez que seu maior pensador e escritor Machado de Assis era Negro e vindo da favela, que aquelas portas abertas não se fechassem, até porque aquele espaço também nos pertence enquanto literatura periférica uma vez que a qualidade do nosso texto estava comprovada muito antes que aquela formação representasse uma aproximação da ABL com a Literatura que é produzida na Periferia, ao contrário, a ABL foi feita e pensada por um escritor da Favela, da Periferia, foi nas mão de Machado que ela se moldou. Depois também coletivamente lancei o livro da Formação de Escritores Machado Quebradeiro proporcionada pela Universidade das Quebradas na Academia Brasileira de Letras em parceria com a FLUP que ficou responsável pelo livro, teve apoio do Instituto Odeon e PACCUFRJ com o nome homônimo Machado Quebradeiro que traz um belíssimo texto que é quase um memorial a Heloisa Teixeira, escrito pelo Jornalista e Escritor Júlio Ludemir, que já de cara quase desabafa dizendo que quem fazia essas coisas era ela – no caso a apresentação do livro, ela gostava muito de escreve-las e fazia questão de fazê-las muitas vezes porque os escritores eram muito bons mesmo e ela queria que mais pessoas tivessem acesso a eles, ela acreditava do diálogo entre o saber periférico e o acadêmico – evocando não só a importância dela para a literatura nacional, que revelou muitos escritores, inclusive muitos deles vindos das periferias, mas também lembrando a importância dela para a literatura produzida nas periferias que é marginalizada, alguns deles canônicos pra nossa literatura hoje, mas também chamando a responsabilidade para si porque sabe e é consciente que exerce missão quase igual quando revela através das antologias que organiza na FLUP, por exemplo os nomes como nosso querido Geovani Martins escritor periférico e dono da escrita de um dos livros do século segundo a Folha. O lançamento do livro ocorreu através da Editora Malê com organização de Júlio Ludemir e Heloisa Teixeira, Júlio que é fundador junto com Élcio Sales – nosso queridíssimo influenciador da leitura e da literatura nas Favelas – da FLUP – Festa Literária das Periferias, que é realizada uma vez ao ano e grande reveladora de talentos como os escritores periféricos Geovani Martins, Lilian Guerra, Jeferson Tenório, Luiz Maurício de Azevedo que já participaram das formações já tradicionais que a FLUP proporciona. O livro Machado Quebradeiro é um livro que segundo o professor da UFRJ Eduardo Coelho os escritores “… reinventaram, de modo apaixonado e crítico, um dos pilares fundamentais da literatura brasileira” que é a Obra de Machado de Assis, motivo que nos levou a ocupar os espaços da ABL. É um livro de escritores fortes, potentes. Nesse livro contém o texto Cruas Carnes e Roteiro de Fulga, que escrevi durante o processo formativo de escritores, processo que foi importante também na composição do livro, já que faz parte do processo do livro Mar de Palavras, e que eu queria mostrar ao leitor. Nesse mesmo dia, mais cedo, lancei o livro Mar de Palavras, cujo os processos de edição começaram quase dois meses depois que finalizei a formação e pude me dedicar ao fechamento do livro Mar de Palavras e mandá-lo para a chamada. Mais uma serendipidade ocorrendo aqui, foi o lançamento do livro Machado Quebradeiro ocorrendo no mesmo dia do lançamento de Mar de Palavras, aquele dia foi especial porque também se comemorava o aniversário de Machado de Assis. Então naquele frenesi da grande festa que é uma Bienal de Livros, para um amante de livro, um leitor curioso, é impossível não perceber seus autores (no sentido geral e não apenas dos autores destacados), seja ele grande ou pequeno, bate uma curiosidade de quem está passando, tanto pra saber quem está ali, quanto para ver os livros que estão em exposição nos estandes, ou até mesmo tentar descolar um brinde. Antes isso não existia, eu estar ali junto com outros escritores periféricos inclusive de destaque na programação foi difícil, ainda o é. Eu venho de uma realidade periférica, onde as prateleiras não estão acostumadas a expor a Periferia, a Literatura Periférica era exposta nos fundos das livrarias e bibliotecas, muitas vezes espalhados pelas gôndolas, perdidos entre aquele mundaréu de livros muitas vezes de autoajuda, fora de circulação, como diria Manoel: “Inutensílios”. A propósito, hoje em dia os livros de autoajuda são os mais vendidos, e a periferia tem ocupado alguns espaços importantes nas livrarias através de seus autores. Alguma coisa mudou, talvez a nossa percepção da vida, do existir ou o olho do mercado. A IA tem tornado muita coisa que tinha utilidade em inutensílios. Quer dizer, o livro Mar de Palavras só é mais um livro pra quem um livro não tem significado, mas pra quem sabe que o livro é cheio de significados, para quem ama a palavra, que o livro não nasce do delírio mas do trabalho de seu autor, do ofício do escritor, Mar de Palavras é um inutensílio, está ali naquele mar de livro, em busca de alguém que lhe dê significado, que interaja com ele, e isso pode ocorrer agora ou depois, porque é um livro atual. Muito se tinha falando que a tecnologia substituiria os livros, mas temos visto que não, os livros são um aliado importante no desenvolvimento de nossa capacidade cognitiva. O livro é uma experiência, um convite a navegar em um mar desconhecido, a mergulhar na experiência humana, na imaginação, na técnica. O livro quer ser lido, quer circular, quer existir, tem vontade própria. Quando o livro é bom, você sente. Quando você pega ele, abre, abre-se aquele mundo sem preconceito, sem medo, você descobre a função do livro, você existe com ele, você passa a ser ele. Então não acredito que estou trazendo mais um livro, diria que estou trazendo um Inutensílio que está no meio dos livros, e que aos olhos bem atentos do leitor esse inutensílio é retirado do meio daquele mar de livros e passa a circular como poesia viva, inclusive o formato do livro, o tamanho do livro é uma serendipidade à parte porque ele cabe na bolsa e no bolso do jeans, que tem me rendido momentos lindos porque quando a pessoa pega o livro nas mãos causa um impacto, revelando assim a delicadeza e a ferocidade que emerge da poesia das margens, uma vez que até pra editora que é independente como no caso da Urutau, publicar autores independentes é quase um movimento marginal porque mesmo frequentando a lista dos mais importantes prêmios da literatura nacional e estrangeira ocupa no coração do leitor brasileiro quase o mesmo espaço imposto pra ela pelo mercado tradicional e veroz. É preciso, antes de ocuparmos esses espaços, sermos conscientes dos que vieram antes de nós, os ancestrais dessa literatura periférica e marginal que hoje é destaque nacional, para só então termos consciência do lugar que ocupamos hoje, que é mais um lugar de resistência e militância, e não apenas da fantasia ou da ignorância, é um lugar de memória, e que carece de investimentos. É preciso uma militância acordada, e consciente de que tem que investir em Escritores, e que não existem escritores e poetas apenas nos grandes círculos, eles existem das margens, eles resistem nas margens, é o repentista do lado da casa dos meus avós, é o rimador do lado da casa da minha vizinha, é o escritor que só vive pra cima e pra baixo fazendo suas anotações, é o poeta de Samba, é o escritor de dentro de casa. Fazedores da Literatura univos, clamem por seus direitos. Mostrem que seus livros não são só mais um livro naquele mar de livros, seu livro é um Inutensílio, e nem foi eu que falei isso, foi o Manoel de Barros, então Mar de Palavras é isso, um inutensílio, porque tem essas camadas.
R. N. – Como você citou Mayk Oliveira, um de nossos colunistas, que escreveu por aqui sobre Mar de Palavras, deixo um trecho da resenha: “O trabalho de Jandeilsom é marcado por essa sensação ambivalente: ponto de chegada, ponto de partida. Sempre a observar a paisagem, sempre desejoso, sempre com a vela pronta para velejar.” De onde vem e para onde vai Jandeilsom?
J – Acredito que literatura é superação, seja herói ou vilão, na vida do autor cada livro é de superação, ou ao menos deveria ser já que foi assim eu aprendi, superação de um momento, superação de uma história, superação de terminar aquilo que se propôs a escrever faça chuva ou faça sol, com dor de dente ou sem dor de dente. Depois que o livro nasce, está no mundo, ele ganha vida própria, como eu disse antes, tem seu momento. Mar de Palavras existe, é uma realidade, tem sua finalidade e proposta. O autor é esse canal de boas histórias, ou não, porque as vezes pode acontecer de não termos uma boa história, mas como cada livro para Jandeilsom é superação de algum momento, tendo a navegar rumo a novas histórias, revisitando sempre que possível a memória, já que afinal de contas você só vai descobrir se tem ou não uma boa história nas mãos é depois que for lido. E talvez é por isso que esse não seja só mais um livro. Você não dá nada por ele, mas depois que você o abre, interage com ele, você descobre como ele é importante e você deseja que ele circule porque ele contém uma mensagem importante. Venho construindo uma caminhada na literatura com rumos à superação, superação de mim mesmo, da minha escrita, da minha forma de ver o mundo, sempre disposto a ouvir e aprender, sempre disponível apesar da timidez, para falar dos meus livros e dos livros de outros escritores dispostos a serem lidos e que também acreditem que livro é superação, que poesia é superação, que a escrita é superação, e que o resultado dessa literatura é de superação mesmo, já que pra sermos o que somos hoje, e dispormos dos meios que dispomos hoje, é resultado da superação e nunca do regresso, principalmente no que diz respeitos as nossas liberdades e direitos, inclusive do pensamento, com responsabilidade temos construído uma civilização madura, capaz de conviver e avessa à guerra, mas muito consciente de que ela existe nos vários campos da humanidade, tudo isso tem reflexo na literatura, coisas como a Globalização, a Consciência de Latinidade, de Universalidade, o desejo de circulação do homem, a curiosidade por descobrir os novos territórios, as distâncias foram diminuídas e depois da pandemia é evidente essa sede que todas as camadas da humanidade tem sentido por descobrir esse território chamado planeta Terra, tudo isso tem influenciado na Literatura como um todo, e é por isso que é um setor que precisa ser investido porque quanto mais se investe em escritores e na sua formação mais qualidade você tem na sua literatura local e mais leitores você forma, porque o livro circula e é por isso que ele é um inutensílio bom, porque o livro ao circula nas pequenas camadas você forma uma geração de leitores, e ao formar uma boa geração de leitores você tem uma literatura cada vez mais de qualidade, inclusive no que diz respeito a outras literaturas como autoajuda, porque a sabedoria universal que se constrói junto ao darmos visibilidade a todas as vozes que constituem esse universo de nossa existência, estamos construindo calmamente essa nação de leitores que tanto almejamos. Eu como estudante de letras, porque o meu sonho sempre foi me aperfeiçoar na literatura que é construída no meu país, em breve estarei concluindo a faculdade que é a concretude desse sonho construído a duras penas, pretendo seguir esse caminho de busca do conhecimento, do diálogo com nossa existência porque também acredito nisso, que o livro, esse inutensílio maravilhoso tem essa missão de carregar esses poemas que mostram um pouco do meu processo enquanto poeta e também escritor já que as palavras às vezes vão pingando, quando a última palavra do poema, aquela que você diz “cadê o ponto final?”, e que você não consegue porque falta uma palavra ali, às vezes o poema fica ali dias sem ser finalizado, do nada, aquela palavra vem, é quase que um capítulo à parte, se você quiser colocar essa palavra de destaque você consegue, aquela palavra é essa gota no mar, esse respingo de palavra, esse ser humano que deseja evoluir, ter contato com outras culturas, existir em outros lugares, esse sou eu, diria que é esse caminho que desejo seguir. Quando lembro de onde vim, e onde estou agora, por exemplo nessa entrevista, na dúvida entre ir ou não ir à FLIP, pela primeira, que é um lugar como Caviar, você ouve o tempo todo falarem, mas nunca comeu. Eu sigo por esse caminho, pelo caminho quem vê como a Literatura Brasileira se fortaleceu e se fortalece com esses movimentos, é nesses lugares que desejo estar, é caminhando por esses espaços, que não pertencem exclusivamente a uma classe social predominantes mas que agora pertencem à nossa história, à nossa memória, do que está sendo construído agora, das conquistas que estamos realizando agora, para que cada vez mais espaços como esse (a Revista Navalhista) se fortaleçam, se conscientizem de que se não estão construindo a história literária da nação, ao menos estão construindo a história literária de suas cidades, dos seus locais, e tudo isso é memória, merece registro, faz parte desse espólio que é a literatura local. Eu vou por esse caminho, para mim é o caminho mais parte da gratidão, é saber que minha literatura que nem mesmo é contabilizada, porque em uma pesquisa que só leva em conta os livros que são produzidos pelas editoras de livros tradicionais, ela quase que invisibiliza as produções independentes que são tidas quase como produções sem qualidade e que por exemplo não considera a produção de um livro de editora independente, no mínimo esse país de leitores está sendo contabilizado errado, e o que mais me felicita é saber que meus vizinhos são esses leitores não contabilizados, invisíveis, marginalizados que acreditam nos livros, que me formaram esse escritor que sou hoje.
R. N. – Gosta de tapinhas nas costas? Chegou o momento. Agradecemos demais sua colaboração com o espaço. Aqui, você pode terminar falando sobre o que desejar, com total liberdade. Amigo, até uma próxima.
J – Agradeço a oportunidade, à equipe e peço que se fortaleça, se unam. Peço perdão qualquer coisa, e nunca esqueçam de registrar, das famosas Evidências. Trago aqui algumas informações quentinhas, o meu pensamento, e tenho como prova o livro Mar de Palavras, vindo de onde vim, o inutensílio mais digno de se ter é o livro, ele salva vidas, ler salva vidas, a leitura salva vidas, é ela que está construindo a memória do nosso povo. Claro que a boa literatura, a literatura que ajuda o ser humano evoluir, que não fere nem destrói. Literatura é um exercício da escrita, da memória, então agradeço, e desejo que retorne em dobro tudo o que essa entrevista pode fazer por mim ao deixar público o meu pensamento em relação à minha visão do atual momento da literatura, da serendipidade, palavra que aprendi o significado com Júlio Ludemir na sua palestra em 2024 na Formação de Escritores Machado Quebradeiro, naquele ano eu fiz 40 anos e 12 anos do lançamento do meu primeiro livro Solidão além do que vejo. Foi a persistência que me levou a ocupar aquele espaço na Academia Brasileira de Letras, já que entre nós também havia escritores iniciantes, todos nós vindos de uma rigorosa seleção, e para mim era como escritor já publicado e eles como escritores iniciantes, era a concretização de um sonho, e no fim a realização da história, de um novo capítulo na literatura brasileira, onde nós fomos recebidos na ABL dentro daquele movimento de eleições de acadêmicos que culminaram na nossa queridíssima Ana Maria Gonçalves que numa clara demonstração de proximidade, como escritora advinda das periferias apareceu após sua eleição e antes de sua posse, naquele mesmo lugar, em uma mesma formação de escritores mas com outro pilar da literatura brasileira que é o Suassuna Quebradeiro, do nosso querido Ariano Suassuna, que também publicará os textos dos escritores em livro próximo ano, podemos celebrar não só Ana Maria Gonçalves, celebramos também nosso querido Gilberto Gil, o padrinho da minha turma da formação de escritores da Universidade das Quebradas na ABL: Machado Quebradeiro, que foi o querido Ailton Krenak. Ao mesmo tempo que testemunhamos a história fazíamos parte dela porque é transformando o talento em persistência que ocupamos os espaços reservados aos frutos desse talento. Quanto mais nos valorizamos, nos fortalecemos, mais a literatura se fortalece, e o nosso trabalho se fortalece. Por isso agradeço.

JANDEILSOM, paraibano 40 anos, vive na Favela da Rocinha, Rio de Janeiro, desde os anos 90. Escritor e poeta. Autor de Zezinho da Rocinha (2022), Nevoeiro dos Tempos: Contos Obscuros (2021) e Solidão além do que vejo (2012). Participou da Motirõ – Escola de Criação Literária (2023), do CLIPE Casa das Rosas (2024) e da Formação de Escritores Machado Quebradeiro na ABL (Academia Brasileira de Letras) 2024. Criador do canal Na Margem de Poesia Falada, se inspira na riqueza cultural das periferias e favelas.