
CULPA
Podia ter ajudado
não me faria falta,
a escolha de não ajudar foi minha
era irrisória a quantia
foi tão cômodo não ajudar,
agora é isso que me resta
esse sentimento turvo
tentar não pensar nisso
me faz pensar ainda mais;
a fome deve doer
nas margens da minha imperfeição
deixei meu lado mesquinho prevalecer,
e agora como fico?
na testa está escrito “não tenho senhor”.

O GATO VESGO
Vive de abandono,
se alimenta de rejeição,
espera por afeto
e recebe olhares de desprezo
sonha em ser gato de madame
não precisar caçar,
a calçada a noite é muito fria
o incômodo é constante
os frios olhares de desdém
comunicam o ser frívolo que ele é,
levantou-se para atravessar a rua,
é vesgo, não viu o carro
ou será que viu?
assim foi sua partida.

ALIANÇA NO MAR
O sol brilhava como nunca,
a bebida estava no ponto certo,
meu amor olhava-me com desejo,
as ondas estavam animadas.
os ouvidos atentos aos causos da mesa ao lado
que sempre foi nossa maior diversão
no céu as nuvens escreviam a palavra “férias”
letras garrafais que ofuscavam os afazeres laborais
tudo isso se findou
no balançar das águas do mar
a calmaria se foi
as palavras no céu se dissiparam
um pedaço de ouro que muito simboliza
resolveu me abandonar
o mar que levou sequer agradeceu
momentos de silêncio e reflexão.

A DESESPERANÇA DO EU
Hoje me apago
para tentar perceber o mundo,
o mundo que resido
me percebe como só mais um.
Edgar Morin tinha razão
sou só mais um na cultura de massas,
brincar de ser é complicado
nos dias de hoje é melhor não ser,
é cansativo tentar ser
melhor permanecer no esquecimento.

Ramon Oliveira é maranhense da cidade de Lago da Pedra. Atua como professor efetivo na rede pública municipal na cidade de Santa Inês-MA desde de 2020. Além de professor e poeta, o mesmo é mestrando pesquisador no programa de pós-graduação em letras (PPGLB) da Universidade Federal do Maranhão (UFMA), onde pesquisa poesia, literatura de cordel e literatura de autoajuda.
