
Prazer efêmero
As entrelinhas dos versos
como uma reza
degustada durante as noites solitárias.
Amargas almas enraizadas
alimentando a angústia inexplicável.
Sofrimento impalpável e silencioso,
Tânatos à beira da cama, observa-me.
Eros, que estais pulsando continuamente,
nossos encontros encaminham-me ao fim. Fazei de mim, enquanto vivo,
movimento do prazer efêmero.

Doce abismo
Empurrou-me à solidão
um minuto após nosso eterno.
Fiquei em silêncio, respirando abismos,
única forma de não demonstrar decepção.
A linguagem do gozo e suas efemeridades,
as palavras deslizavam no meu pescoço,
agora, sussurram minha morte:
“Aproveite enquanto há tempo”.
O restante da semana era o de costume:
poemas inacabados,
pensamentos confusos,
planos alterados,
e da morte, recados.

Linguagem pulsante
Logo cedo, sinto
teu sussurro, meu ouvido,
o arrepio, teu olhar me consome
como se fossemos um.
Atravessar teu mar,
mergulhando nos teus contornos, poesia.
Versifica a sílaba tônica
a cada ondular do nosso ato.
Abraça-me com tuas pernas,
seguramos-nos pelos cabelos,
o ritmo nos devora,
degustamos o efêmero.

Moradia
Ilusória sensação de casa,
encontro-me na sua cascata
tateando as paredes, as curvas,
abrindo os lençóis, exaltando a visão.
Conduzidos pela movimentação,
destinados ao agora.
Para nós, vida pulsante
Para o mundo, inegociável morte.

Desencontro
Alugou-me os pensamentos,
sem hora, local ou dor marcados.
Pulsou em minha alma.
Pisou em minha solidão.
Trouxe a palavra e o vinho,
arrancou até a última gota.
Desalinhou minhas certezas
em dança com o abismo.
O doce arrepio do talvez
sussurrado sem metáforas.
A continuidade deslizava
afundava e navegava.
Tornou-se um passeio triste pelas ruas do centro.

Dos pequenos pássaros
Não perceberam,
mas meu coração ainda batia.
As pessoas passavam,
as dores passavam,
o ônibus passava e eu queria ficar para trás.
Não notavam, mas eu ainda estava ali,
nos olhares, memórias e café doce
que aprendi com meus pais.
Não entenderam quando parti
por não me sentir bem,
por sentir cada palavra
e silêncio no ambiente.
Hoje me sinto um sujeito sem rosto,
mas meu coração bem-te-vi ainda estava ali,
ainda sem me perceber,
mas observando o mundo.

Meu nome é Raphael Souza Soares, tenho 25 anos, formado em Letras – Língua Portuguesa (PUC-GO), cursei Especialização em Estudos Literários e Ensino de Literatura (UFG), e iniciarei o Mestrado em Letras e Linguística (UFG). Busco, desde a graduação, compreender mais acerca da literatura erótica, principalmente nos poemas. Escrever poemas me ajuda a refletir sobre minhas pesquisas e as possibilidades das movimentações do erotismo.
